O Mundo dos Negócios e a Ciência

Professora Dra. Luciane Ceretta destaca a importância de sinergia entre as partes

A geração, o aprimoramento e o intercâmbio de conhecimento entre universidades e países é capaz de gerar resultados práticos para as empresas. Em entrevista a O Mundo dos Negócios, a Professora Dra. Luciane Bisognin Ceretta, reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), de Criciúma-SC, traça um panorama da importância da internacionalização das pesquisas, a condição que o Brasil ocupa neste cenário e delineia as ações a serem tomadas para fortalecer o papel da ciência no mundo dos negócios.

OMDN: Qual a importância da internacionalização das pesquisas para o mundo dos negócios?

Luciane Ceretta: Uma Universidade é reconhecida pela integração entre ensino, pesquisa e extensão. Quando firmamos convênios internacionais, estamos ampliando a rede de produção de conhecimento de forma integrada entre dois ou mais países, a fim de possibilitar a compreensão de variáveis sociais que poderão contribuir para o desenvolvimento das organizações e das demandas socioeconômicas e socioambientais dos países envolvidos.

Quando há investimentos no desenvolvimento da ciência, maiores serão as possibilidades de melhorarmos a condição de vida das pessoas e das organizações. É por meio da ciência aplicada ao mundo dos negócios que há a transformação de processos, produtos e novos métodos de gestão e tomadas de decisões. A internacionalização da pesquisa é uma estratégia muito importante adotada pelas Universidades que valorizam a cooperação na produção do conhecimento por meio da ciência.

OMDN: Além da formação de profissionais, como a universidade pode participar do processo de internacionalização?

Luciane Ceretta: São muitas as formas em que a internacionalização acontece na Universidade. Acordos institucionais, programas de cooperação, pesquisa conjunta ou em rede, desenvolvimento tecnológico, mobilidade e intercâmbio de estudantes e de professores, processo de aprendizagem com currículo internacionalizado, capacitação intercultural, palestrantes visitantes, professores visitantes, programas com dupla titulação, entre outras práticas recorrentes no cotidiano da instituição.

OMDN: Quais resultados a troca de conhecimento entre universidades de diferentes países pode gerar?

Luciane Ceretta: A título de exemplo podemos citar, a qualificação das pesquisas. Novas metodologias, materiais e práticas de pesquisa e extensão. Acordos internacionais de pesquisas. Publicações científicas de forma conjunta. Ampliação do olhar dos envolvidos a respeito da diversidade cultural e dinâmica de trabalho que envolvem essas parcerias, além do conhecimento adquirido pelas vivências e experiências que essa troca proporciona para todos os envolvidos, sejam eles estudantes e professores.

É por meio da internacionalização que as barreiras interculturais são superadas e dirimidas a partir de projetos com objetivos comuns: o desenvolvimento da ciência, das pessoas e das demandas socioambientais.

OMDN: O que é preciso para que uma universidade brasileira esteja capacitada a exportar conhecimentos?

Luciane Ceretta: É um processo que envolve a criação de políticas institucionais que incentivem o desenvolvimento da ciência nas diferentes áreas do conhecimento. Inclui a qualificação constante dos docentes-pesquisadores, além da existência de programas stricto sensu com excelentes conceitos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A produção da ciência de excelência é resultado de investimentos constantes para a manutenção de pesquisadores dedicados para tal finalidade. Portanto, a exportação de conhecimento é resultado deste investimento em médio e longo prazo, pois envolve um quadro de pesquisadores qualificados e que possam identificar oportunidades de pesquisas que tenham relevância internacional.

OMDN: O Brasil hoje está aberto a receber informações de pesquisas internacionais nas suas universidades ou ainda há muitos desafios neste sentido?

Luciane Ceretta: Acredito que o Brasil é um celeiro de talentos e oportunidades. Na medida que o Estado enxergar a ciência como um investimento, perceberemos como nos destacaremos mundialmente por tudo aquilo que já produzimos e podemos ampliar. Temos percebido a queda gradual orçamentária no MCTIC frente aos investimentos em pesquisa, um cenário altamente preocupante para o futuro da ciência.

A título de exemplo, vou resgatar uma publicação do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2020, quando destacou os investimentos das nações em pesquisa científicas para o enfrentamento da COVID-19. Enquanto os países Canadá (11,8%), Reino Unido (10,8%) Alemanha (6,3%) e Estados Unidos (4,1%) investiram percentuais importantes, o Brasil investiu 1,8%. Neste cenário, é preciso um olhar estratégico no Brasil para posicionar a ciência, tecnologia e inovação como pautas prioritárias e de valorização dos pesquisadores e profissionais que escolheram a ciência como carreira.

OMDN: Como a inclusão de acadêmicos de outras nacionalidades pode agregar à sociedade local?

Luciane Ceretta: Quando o estudante estrangeiro chega na instituição, ele traz consigo sua cultura e seus valores. Há um ganho recíproco tanto para o estudante estrangeiro, quanto para os professores e outros estudantes da Universidade que convivem com ele. É uma via de mão dupla, pois a troca de experiências com a convivência, contribui significativamente para o desenvolvimento da comunidade acadêmica.

A Unesc possui muitos estudantes estrangeiros de vários países, o que torna o ambiente acadêmico diverso e plural. É na Universidade que as ideias divergentes favorecem no desenvolvimento das competências socioemocionais dos nossos estudantes.

OMDN: O que ainda é preciso fazer para aproximar mais a academia e as pesquisas ao mercado?

Luciane Ceretta: Uma das formas mais assertivas que conheço é por meio do diálogo e de discussões de pautas conjuntas que possam coadunar com os interesses recíprocos. A academia cumpre o seu papel de desenvolver competências profissionais que vão ao encontro das necessidades da economia local e regional.

É preciso criar pontos de convergência em que a academia tenha o seu espaço dentro do mercado e que haja valorização das pessoas com qualificação para desenvolver suas carreiras nas regiões em que estão instaladas. A pesquisa e desenvolvimento pode ser uma via muito importante, pois é na academia que há muitos pesquisadores que poderão atuar em favor do desenvolvimento de soluções que atendam as necessidades da economia local e regional.

É na Universidade que há muitos laboratórios de pesquisa de ponta que poderão ser espaços de desenvolvimento tecnológico para o setor produtivo, além da formação de mão-de-obra qualificada.

Outra forma de aproximação é a criação de projetos de extensão conjuntos com as empresas, em que haja colaboração entre academia e setor produtivo para desenvolver do entorno local onde está instalado. A Unesc possui mais de 200 projetos de extensão que podem ser realizados em parcerias com as organizações regionais.