Ganhos com exportação são temporários, diz diretor da OMC

Para Edwini Kessie, o aumento nas negociações internacionais se deve à guerra comercial entre China e EUA

Kessie avalia que, no embate atual das duas maiores economias mundiais, que também são o maior consumidor de bens agrícolas (China) e o maior exportador (EUA), todos os outros países podem acabar prejudicados. E o Brasil, temporariamente beneficiado, não deve se iludir Photo credit must be given: ©FAO/Giuseppe Carotenuto. Editorial use only. Copyright ©FAO.

Ao participar nesta quinta-feira (5/8) do sétimo Fórum de Agricultura da América do Sul, em Curitiba, o diretor da Divisão Agrícola e de Commodities da Organização Mundial do Comércio (OMC), Edwini Kessie, disse que os atuais ganhos com exportação do Brasil são temporários, principalmente de soja para a China, em meio à guerra comercial do país asiático com os Estados Unidos.

Kessie destacou que, se o Brasil aumentar agora os investimentos para exportar mais soja, quando os Estados Unidos voltarem a vender o produto para a China, a tendência é que os preços caiam, o que pode prejudicar o setor brasileiro.

Sobre o impacto da guerra comercial na economia mundial, ele disse que, se houver acordo no curto prazo, os efeitos não serão significantes.

Em painel no fórum, o diretor afirmou que essa guerra não é benéfica para o mundo, porque gera incertezas.

Isso não é bom para os negócios que requerem previsibilidade”, disse Kessie.

Balança comercial

Para o consultor em comércio exterior Fábio Carneiro Cunha a tendência é que o Brasil mantenha ganhos na balança comercial por mais um ano.

Ele destacou, entretanto, que a disputa entre os dois países também gera o efeito de aumento das importações de produtos eletrônicos e plástico, por exemplo, o que afeta a indústria brasileira. Segundo o diretor, isso ocorre porque China e Estados Unidos, passam a enviar esses produtos para países como o Brasil.

Houve aumento de exportação de soja, de milho. Mas ao mesmo tempo, houve aumento de importações dos dois países de setores que já sofrem com isso, como o de comércio eletrônico e plástico. Então, quem está preparado para exportar tem um benefício transitório, mas quem tem normalmente dificuldades com o comércio exterior está sofrendo ainda mais”, afirmou.

A disputa comercial iniciada entre China e Estados Unidos no ano passado aumentou as exportações brasileiras para a China em US$ 8,1 bilhões, em 2018, em comparação com o ano anterior. As vendas nacionais passaram de US$ 22,589 bilhões, em 2017, para US$ 30,706 bilhões.

O maior salto em valor de exportação ocorreu com a soja. Produtores chineses compraram US$ 7 bilhões a mais no ano passado do que em 2017. Os dados são de levantamento divulgado em maio pela Confederação Nacional da Indústria, que cruzou dados de produtos americanos que tiveram os impostos de importação elevados.

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