Basta um olhar mais atento para algumas estruturas e logo surge a dúvida: como isso chegou até aqui? São barcos esportivos, aviões, reatores, turbinas, hélices de parques eólicos, guindastes, veículos – entre outras máquinas de grandes dimensões – que costumam causar fascínio e curiosidade. Estas peças indivisíveis, cujas medidas e peso ficam fora dos padrões, não permitem o embarque nos contêineres convencionais de 20 e 40 pés.
As chamadas “cargas projeto” – geralmente transportadas em modal marítimo – chegam em navios do tipo:
• Ro-Ro (roll-on roll-off) – principalmente para os carregamentos rolantes, como tratores, por exemplo;
• Breakbulk – especializados em carga solta;
• Porta-Contêiner – para o transporte de equipamentos especiais.
Estes navios costumam ter estruturas condizentes para o içamento de carga, com guindastes instalados no convés e sistemas de lastro que auxiliam a manter a estabilidade durante a navegação, carregamento e descarga da embarcação.
Primeiros cuidados: o desafio logístico
A fim de evitar avarias ou desgastes durante o transporte destas cargas especiais, são necessários cuidados na embalagem, armazenagem, planejamento de manobra de transbordo, estivagem e a fixação da carga nos porões ou conveses da embarcação. Os cuidados na movimentação de uma carga projeto variam de acordo com a complexidade da operação. Por isso, é necessário alinhar as expectativas com as adversidades gerenciais do transporte – visto que a execução é regularmente mais morosa que o habitual. Emanuel Jorge, gerente de Operações da Portonave S/A – Terminais Portuários de Navegantes, complementa: “Recebemos, no início do mês de outubro de 2020, o caça Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). O Terminal mobilizou sua equipe para receber da melhor forma, com eficiência e segurança, esse equipamento militar”.
O protótipo, com cerca de 15 metros de comprimento e 8 metros de largura, enviado ao Brasil foi fabricado pela Saab, empresa que desenvolve tecnologias para defesa militar e segurança civil, com sede na Suécia. Técnicos da empresa vieram ao Brasil para a entrega do caça, que ainda não estava pronto para voar à espera de peças, participando de toda a operação de descarga, ajustes na aeronave e entrega para a Força Aérea Brasileira.
“Toda a operação é planejada com bastante tempo de antecedência, e todos os detalhes são discutidos com o time de operações. Após definição dos responsáveis por cada atividade, no momento da execução basta seguir o planejado” – complementa, Emanuel.
Documentação: além do Packing List
Não bastará apenas o romaneio de carga para este tipo de mercadoria. Outras informações serão importantes:
- Endereço completo e estrutura do local de coleta e de destino;
- Fotos e desenho técnico da carga;
- Material de construção desta
- Pontos frágeis, pontos de içamento e centro de gravidade da mercadoria.
Portanto, se você deseja fechar a aquisição tão esperada daquele iate italiano de 78 pés para navegar nas férias, é bom ficar atento com algumas peculiaridades desta movimentação – que deve acionar um time de profissionais especializados atentos desde o ponto de partida até a acomodação da carga ao seu ponto final. Segundo Emanuel, diretamente, “foram 40 profissionais da Portonave ligados a essa operação”.
Deslocamentos de cargas especiais – entradas e saídas dos portos
É importante observar horários de trânsito disponíveis e permitidos para o transporte, sempre seguindo as orientações do DNIT e, averiguar outrossim, a necessidade de escolta e liberações de vias para a passagem da carga. Calcular o tempo de chegada ao porto, descarga e rodagem até o cliente se faz necessário a fim de evitar custos operacionais não previstos antecipadamente. No caso citado, a escolha do Terminal levou em conta a infraestrutura e a proximidade com o Aeroporto de Navegantes que fica cerca de dois quilômetros da Portonave. O Caça Gripen foi conduzido até o hangar pelas ruas de Navegantes, na fria madrugada do dia 22 de setembro, rebocado por um trator e escoltado pela Força Aérea e equipe experiente neste tipo de operação.
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